Uma auditoria interna realizada no Corinthians expôs um cenário de descontrole, falhas administrativas e supostos desvios envolvendo a gestão dos materiais esportivos fornecidos pela Nike.
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O relatório, solicitado pelo presidente Osmar Stabile, apontou que o clube retirou quase 300% acima da cota anual prevista em contrato — ao mesmo tempo em que categorias de base e outras modalidades recebiam uniformes em condições precárias ou sequer eram abastecidas.
As conclusões, enviadas também ao Conselho Deliberativo e à Polícia Civil, revelam problemas que vão desde estoque abandonado até comércio clandestino de produtos oficiais. O vice-presidente Armando Mendonça aparece diretamente envolvido em diversas das inconformidades apontadas.
Excesso de materiais e falhas de controle
De acordo com a auditoria, o Corinthians recebeu 41.963 itens da Nike entre janeiro e 10 de outubro de 2025 — número superior ao do ano anterior e muito além do estabelecido no contrato, que prevê cota anual de R$ 4 milhões. Somando 2024 e 2025, o valor estimado dos materiais chega a R$ 23,7 milhões, superando em quase 300% o limite contratual.
Apesar do grande volume recebido, o clube acumula materiais de coleções antigas sem destino, e muitos departamentos não recebem o mínimo necessário para suas atividades. Faltam inventários atualizados, há notas fiscais não lançadas desde 2024 e a retirada dos itens ocorre sem critérios claros ou registros consistentes.
Categorias de base e modalidades sofrem com escassez
O relatório destaca que diversos setores do Corinthians, especialmente as categorias de base e esportes olímpicos, não possuem uniformização adequada. Somente o sub-20 recebeu materiais completos de treino da coleção 2025.
Times como sub-12 e sub-13 ainda utilizam modelos de 2019 e 2021, enquanto o futsal tem peças desgastadas, remendadas e desbotadas. Modalidades aquáticas, por exemplo, não recebem uniformes oficiais da Nike e dependem da compra de materiais licenciados — um gasto considerado desnecessário pela auditoria, já que o fornecimento da Nike não gera custos ao clube.
Episódios de improviso no profissional
Até o time principal masculino sofreu com a má gestão. Em setembro, o Corinthians descobriu que não tinha camisas brancas suficientes para enfrentar o Fluminense, no Maracanã. Sem conseguir reposição emergencial da Nike, o clube pediu aos cariocas que ambos usassem seus segundos uniformes — pedido atendido pelo adversário.
Comércio clandestino e desvios
Uma denúncia anônima levou a auditoria a descobrir esquemas de venda ilegal de materiais do clube dentro e fora de suas dependências. Funcionários foram flagrados comercializando camisas oficiais desviadas do estoque institucional por valores entre R$ 150 e R$ 180. Um deles confessou participação no esquema.
Vice-presidente é citado como protagonista nas irregularidades
O vice-presidente Armando Mendonça, responsável pela gestão dos materiais desde maio, é colocado no centro de diversas ações consideradas irregulares — como retiradas diretas de uniformes sem registro, pedidos pessoais de camisas especiais e solicitações repetidas para fins de “relacionamento da diretoria”.
Entre 6 de junho e 30 de outubro, Mendonça retirou 131 itens sem documentação completa, segundo a auditoria. Em outro episódio, pediu para si as 19 camisas especiais usadas no clássico contra o Palmeiras e, mesmo após cancelar a solicitação quando soube da fiscalização, retirou oito peças sem formalização.
O relatório relata ainda que o dirigente demonstrou comportamento agressivo e “alusões interpretadas como ameaças” ao diretor responsável pelo processo de auditoria.
Mendonça nega irregularidades, afirma não ser responsável pela distribuição dos materiais e diz que o relatório é “tendencioso”.
Conclusões e recomendações
A auditoria aponta “falhas processuais relevantes” no controle dos materiais, na organização dos almoxarifados e na rastreabilidade dos itens, além de suspeitas de comercialização indevida com envolvimento de colaboradores.
Entre os pontos mais críticos estão:
- retiradas irregulares antes da conclusão dos trâmites formais;
- ausência de inventários e registros sistêmicos confiáveis;
- descontrole fiscal por notas não lançadas;
- distribuição desigual dos materiais;
- modalidades inteiras sem uniformização.
O relatório encerra com 17 recomendações para melhorar os processos internos, incluindo digitalização dos fluxos, reforço nos controles, padronização de solicitações e revisões periódicas de estoque.
A investigação interna seguirá em paralelo ao inquérito da Polícia Civil, que apura possíveis crimes relacionados à gestão dos materiais esportivos do Corinthians.
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