O futebol sempre esteve relacionado a temas sociais importantes para a sociedade. Hoje, com a pressão por resultados, um item em pauta é a saúde mental de jogadores e até mesmo de torcedores. Recentemente, o zagueiro Lyanco, do Atlético, afirmou sofrer com crises de pânico e ansiedade.
Pensando nisso, o R10Score foi investigar o tema e entrou em contato com a psicóloga Alexsandra Elenir, que atua na área de psicologia esportiva. Ela abordou como a pressão pode afetar o rendimento de um jogador, mesmo aquele de elite.
Alexsandra: “A ansiedade acarreta vários fatores, e o futebol, por si só, é um esporte competitivo, que exige que o atleta esteja sempre em boa condição. A exigência e cobrança vêm do próprio atleta, da comissão técnica, da família, sem falar da torcida. Acredito que, da mesma forma que os atletas têm uma preparação física, técnica e tática, a preparação emocional é de fundamental importância.
Lidar e entender os sentimentos e emoções traz maior clareza para os atletas. Os fatores podem ser problemas pessoais, externos, com um companheiro ou com alguém da equipe técnica, o que pode causar desconforto e afetar negativamente o desempenho do jogador, diminuindo sua capacidade de concentração e tomada de decisão.“
O futebol brasileiro tem um calendário bastante cruel com seus jogadores, e, nesta reta final, há times disputando o Brasileirão, a Copa do Brasil, a Libertadores e a Sul-Americana, às vezes três competições ao mesmo tempo, como é o caso do Atlético e do Corinthians. Alexsandra detalha como preparar um atleta para essa pressão por resultados.
Alexsandra: “O ideal para um bom desempenho começa pela organização dos clubes. Uma grande equipe NÃO começa no campo! Tendo um bom staff, em uma equipe que traga harmonia e a percepção de que todos estão em busca do mesmo ideal, o foco, dedicação e concentração contribuem para os resultados. Acredito que um olhar humano, lembrando que jogadores não são robôs, é fundamental. O olhar para a Psicologia do Esporte está melhorando, mas ainda há muito a avançar.
Contamos nos dedos os clubes que possuem um departamento de saúde mental. No entanto, aqueles que têm fazem um excelente trabalho! Tudo que for para colaborar, acrescentar e auxiliar no desempenho do atleta é bem-vindo, mas substituir a função do psicólogo, isso não. A psicologia é uma ciência comprovada, que promove, colabora e contribui para a qualidade, o desempenho e o aprimoramento do atleta.”
Clubes brasileiros não contam com tratamentos de psicologia em suas equipes
Recentemente, o site Trivela revelou que metade dos clubes da primeira divisão não possui psicólogos em suas direções ou departamentos de futebol, entre outros. Até mesmo a Seleção Brasileira, durante a Copa do Mundo de 2022, optou por frases motivacionais em vez de contratar um profissional da área. Como mudar essa situação?
Alexsandra: “Ainda há muita descrença quanto à valorização da psicologia esportiva. No entanto, grandes clubes hoje possuem seu departamento de saúde mental. Toda e qualquer contribuição para o desempenho de um atleta de alto rendimento é primordial. A psicologia do esporte visa promover a qualidade e o desempenho esportivo de atletas de alto rendimento por meio de diversas estratégias.
Acredito que essa mudança deve começar pelas categorias de base, pois são crianças e jovens em formação, construindo suas personalidades e buscando sonhos que são deles e de suas famílias. Lidar com pressão, exigência e cobrança desde pequenos, sem suporte emocional, pode acarretar traumas e resultados desastrosos no futuro, como já vimos com vários atletas de alto rendimento.
Divulgação nas rádios e TVs também seria importante. Precisamos lembrar que, por trás daquele atleta, há um ser humano com sentimentos e emoções como os nossos, que precisa ser respeitado como tal.“
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