O Vale a Escrita está no ar com sua terceira edição, desta vez recebendo a ex-bandeirinha e, atualmente, comentarista de arbitragem, Ana Paula Oliveira. Ela revelou detalhes sobre sua trajetória no futebol, defendeu a presença de ex-árbitros nas transmissões, entre outros assuntos.
Inicialmente, Ana Paula fala sobre o uso atual do VAR, uma ferramenta que não existia quando atuava como bandeirinha. No Brasil, o auxílio do árbitro de vídeo foi implementado definitivamente em 2019, embora já tivesse sido utilizado nas finais da Copa do Brasil de 2018.
Ana Paula: “O desejo de me tornar árbitra de futebol foi obra do acaso. Entrei no futebol amador para ajudar meus pais e me apaixonei pela atividade. Sempre fui amante de esportes (vôlei, handebol, atletismo, natação e artes marciais) e tinha como sonho participar de uma edição dos Jogos Olímpicos. Percebi que, como árbitra de futebol, poderia realizar esse sonho de infância. Essa meta me motivou por muitos anos, além da preocupação em cuidar da minha família. Tive a honra de participar de duas edições dos Jogos Olímpicos: Atenas 2004, como árbitra assistente, e Rio de Janeiro 2016, como chefe da delegação feminina de futebol.”
“A arbitragem brasileira estava passando por um momento de transformação e mudanças. Nesta década, tivemos diversas alterações no comando da instituição majoritária e, consequentemente, na arbitragem. Essas mudanças constantes de liderança interferem diretamente nos projetos desenvolvidos e na sua continuidade. Trata-se de um processo delicado, mas acredito que superaremos com uma liderança de longo prazo e com projetos voltados à educação e ao alinhamento com os estados para a formação e o desenvolvimento dos árbitros. É fundamental investir em diversas áreas da formação do profissional humano, como apoio psicológico, nutricional, médico, físico e sociocomportamental.”
“O VAR é uma ferramenta importantíssima para a prática da justiça no futebol. Foi criado para cuidar do jogo e não da arbitragem. Sua filosofia principal é corrigir os erros, especialmente os grosseiros. O desafio é treinar os árbitros de campo e de cabine com os mesmos conceitos, princípios e efetividade nas tomadas de decisão. Assim, é essencial termos uma linha clara e objetiva para a atuação dos árbitros, que deve ser divulgada e explicada a todos os agentes do futebol. A educação arbitral para todos é o segredo para a valorização da arbitragem e do futebol nacional.”
“Com certeza, se o VAR existisse na minha época, eu ainda estaria atuando nos campos. Como qualquer profissional, falhei, mas as minhas falhas eram milimétricas e, com o recurso do VAR, os equívocos seriam corrigidos em prol do futebol. Sim, acredito que ainda estaria em campo. No entanto, Deus sabe de todas as coisas, e nada acontece por acaso. Creio que o acaso é uma providência divina”, analisou Ana.
Há dois anos, a Globo retirou os comentaristas de arbitragem de suas transmissões, embora mantenha no SporTV um quadro sobre as atuações dos juízes na rodada. Ana comenta sobre essa decisão
Ana Paula: “A Rede Globo é uma empresa com total autonomia para decidir qual é o melhor caminho para suas transmissões. Foi inovadora ao lançar Arnaldo Cezar Coelho ao lado de Galvão Bueno nas transmissões de futebol. A dupla fez um sucesso enorme, e confesso que são referências para mim, que também sou jornalista esportiva. Acredito que a decisão da Globo possa ter relação com o advento do VAR. Mas, na minha opinião, o VAR passou a gerar ainda mais debates e questões que precisam ser analisadas e discutidas. O desafio para o comentarista se ampliou, exigindo maior capacidade de comentar em tempo real as possíveis análises realizadas pelo VAR. Eu sou favorável à presença de profissionais de arbitragem nas transmissões. Porém, é importante respeitar a linha editorial de cada emissora“, comenta a ex-bandeira.
Há muito tempo existe no Brasil um debate sobre a profissionalização dos árbitros, mas ele ainda não saiu do papel. Ana fala sobre o que ainda precisa ser feito e o que já existe.
Ana Paula: “Árbitro de futebol é uma profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho. No entanto, precisamos de uma legislação que ampare os direitos da categoria. Hoje, a atuação ocorre como profissional liberal. Entendo que oferecer segurança ao profissional de arbitragem, por meio de um vínculo amparado pela CLT, seria importante e fundamental. Porém, isso não seria garantia de excelência. Acredito que a excelência é resultado de uma soma de fatores, como, por exemplo, um ambiente e condições de trabalho compatíveis com a função. Isso inclui o acesso a um centro de treinamento com uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar. Assim como no caso dos jogadores de futebol, sabemos que isso não elimina a possibilidade de erros, mas, com certeza, contribui para minimizar as falhas.”
“Hoje, podemos citar como exemplo positivo, no Brasil, o projeto Jovens Árbitros, da Federação Paulista de Futebol. Esse projeto piloto conta com 20 jovens que recebem remuneração mensal, mais taxa, e têm à disposição uma equipe multidisciplinar durante oito meses. Trata-se de uma iniciativa experimental. Espero que seja bem-sucedida e, assim, contribua para preparar melhor o profissional humano para os desafios e benefícios de ser árbitro de futebol“, destacou sobre o que ainda pode ser feito com a arbitragem no Brasil.
Por fim, Ana Paula falou sobre suas recomendações para quem deseja seguir carreira na arbitragem, além de compartilhar detalhes sobre sua jornada atual e projetos em andamento:
Ana Paula Oliveira: “Minha rotina hoje é focada em investir na minha qualidade de vida e em projetos pessoais que estão em desenvolvimento para as redes sociais. Pretendo lançar, em breve, um curso online de arbitragem para iniciantes. Tenho atuado como palestrante, árbitra e comentarista, sempre que sou convidada. Continuo estudando e planejo concluir, em fevereiro, minha pós-graduação em Neurociência Aplicada ao Esporte. Também estou empenhada em aprimorar meus conhecimentos técnicos em gestão, liderança e arbitragem de futebol.
“Adoro acompanhar futebol (rs), vôlei, basquete e, mais recentemente, estou buscando aprender um pouco sobre futebol americano. Além disso, gosto muito de tênis. O conselho que deixo para quem deseja ser árbitro é: ame o que faz; seja determinado e resiliente; tenha fé em Deus e em si mesmo.”, concluiu Ana Paula.
Onde acompanhar Ana Paula Oliveira
https://www.instagram.com/anapaulaoliveiraoficial
https://www.facebook.com/AnaPaulaOliveiraOficial
+ Siga as redes sociais do R10 Score: Instagram, Twitter, Threads, Bluesky, Facebook e Linkedin.
+ Resultados ao vivo, estatísticas e análises completas: tudo isso você encontra no R10 Score. Baixe agora clicando aqui e não perca nenhuma informação sobre o seu esporte favorito!
